Espetáculo 'Duas gotas de lágrimas no frasco de perfume' aborda ditadura
A obra de Sérgio Maggio é baseada em depoimentos de mulheres e mães que perderam filhos, familiares e amantes no período
Diego Ponce de Leon
Publicação:04/11/2016 06:23

A entrega do elenco impressiona o espectador
Falar sobre a ditadura militar, de forma densa e crítica, não é das tarefas mais fáceis. Muito menos quando o enredo parte dos depoimentos de mães e mulheres que se viram obrigadas a se despedir de filhos, familiares e amantes dizimados pelo mais opressor de nossos períodos históricos. A constante possibilidade de qualquer incoerência ronda Duas gotas de lágrimas no frasco de perfume. Mas a ronda se revela infrutífera.
Não à toa, o diretor e dramaturgo Sérgio Maggio se debruçou sobre a pesquisa e o texto por cinco anos, de forma a atingir a sobriedade necessária para evocar uma história tão emotiva e contundente, mas sem recorrer a intervenções panfletárias ou apelos gratuitos.
A sensibilidade da dramaturgia, a trilha executada ao vivo por Tiago Ianuck e a direção firme, mas generosa de Maggio, são as ferramentas necessárias para que Gabriela Correa, Gelly Saigg, Tainá Baldez e Silvia Paes entreguem lições de interpretação.
Há um único erro grave na peça e nesta crítica: a afirmação de que o espetáculo versa sobre o regime militar. Não. A peça fala sobre mulheres. São elas (por meio de atrizes tão comprometidas) que nos fazem crer naquelas bravas guerreiras afrontadas pela ditadura. São elas que nos carregam pela história. Por qualquer história.
Serviço
Duas gotas de lágrimas no frasco de perfume
De Sérgio Maggio. No Teatro II do CCBB (SCES, Trecho 2). De quinta a domingo, sempre às 19h. Ingressos a R$ 10 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 12 anos.