'Azul da Prússia' mostra encontro entre diferentes gerações que discutem ditadura
A conversa fala com lirismo e humor sobre um tema complexo no espetáculo de Alexandre Riboni
Isabella de Andrade - Especial para o Correio -
Publicação:20/01/2017 06:00Atualização: 19/01/2017 19:07
Peça mostra que a ditadura ainda precisa ser discutida no país
Com seu mais recente espetáculo, Azul da Prússia, Alexandre Ribondi leva aos palcos as memórias da ditadura brasileira. Apesar da densidade do tema, a peça é envolta em lirismo e humor. Além de autor, Ribondi dirige a peça e interpreta um morador de rua, dividindo o palco com Matheus Silva.
O autor comenta que é preciso um trabalho cuidadoso para dividir as diferentes funções em cena e que a ideia para o enredo surgiu da vontade de escrever algo que pudesse refletir os tempos atuais e mostrar os ciclos entre as gerações. Os personagens são diversos entre si e se encontram de maneira improvável.
“Foi esse o motivo que me fez escrever, dirigir e atuar em Azul da Prússia: a ditadura. Não se pode esquecer a história, não se pode esquecer que as pessoas que passaram por esse período ainda estão vivas e guardam lembranças”, afirma o diretor.
Em relação ao toque de humor, Ribondi lembra que o espetáculo acontece como na vida, onde o drama pode provocar riso e o risível pode nos levar às lágrimas. “Na vida a gente ri e chora. Azul da Prússia é assim mesmo, feito a vida. Trata de um tema espinhoso, triste, medonho, mas podemos rir estando dentro da violência”.
No enredo, é narrado um encontro inusitado entre um morador de rua e um jovem perdido na noite da capital federal. O título da peça faz referência a uma tonalidade de azul inexistente na natureza, criada em laboratório, envolvendo elementos altamente tóxicos. Entre esses elementos está o ácido cianídrico, descoberto a partir da decomposição da própria cor e utilizado em câmaras de gás dos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
No espetáculo, Ribondi utiliza a cor para falar dos lábios de pessoas mortas. “Escolhi esse tema porque acredito no sonho de um país melhor e sei que uma ditadura cria marcas e manchas na alma que são difíceis de ser limpadas. Ficam por muito tempo”, completa o artista.
O autor lembra que o tema precisa ser recriado para que não seja esquecido, já que muitas pessoas que viveram durante o período militar ainda estão vivas. Na peça, o personagem interpretado por Ribondi retrata a um rapaz mais novo o drama vivido coletivamente pelo país no tempo da ditadura. A ideia é mostrar o que aconteceu com sua vida e sua alma depois de tê-la vivido.
SERVIÇO
Azul da Prússia
De Alexandre Ribondi. Teatro do Brasília Shopping. De hoje a domingo, às 20h. Ingressos a R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Não recomendado para menores de 12 anos.