Na Fábrica de pipas de Christus Nóbrega, o operário tem metas, assina contrato, bate ponto e ganha prêmio. Se conseguir fabricar 11 pipas, leva para casa uma delas com carimbo da fábrica, leia-se assinatura do artista. Aberta a partir de hoje na Galeria Casa, no Casa Park, a fábrica é uma versão ampliada de ideia apresentada em 2017 durante exposição resultante de três meses de residência em Pequim (China). As pipas eram um dos elementos explorados pelo artista para refletir sobre as tradições chinesas e o mundo no século 21.

Os chineses, Nóbrega lembra, inventaram muita coisa, e a relação é grande: pólvora, navegação, macarrão, chá, bússola. E a pipa. O artefato era usado mais de mil anos antes de Cristo para deslocamentos e trocas de informações estratégica entre os exércitos chineses. Acabou incorporado à cultura. "Uso essa alegoria da pipa para falar sobre a tradição chinesa e, ao mesmo tempo, fazer uma reflexão sobre os modos de produção e esse país, que se transformou no país mais industrializado do mundo", explica.

Pelos procedimentos da Fábrica, o público tem um contrato de trabalho e é convidado a participar de uma grande performance ao virarem operários dessa espécie de filial. Não há limite de idade para participar nem a obrigação de construir as 11 pipas em um único dia. Como há um cadastro, o visitante pode voltar em outro dia e continuar o trabalho.

"É uma forma de ganhar o céu, mas preso por um pequeno fio, com uma liberdade minimamente controlada. A pipa serve como essa metáfora de conexão entre o céu e a terra, e traz todas as alegorias da filosofia chinesa, do equilíbrio", conclui.

Instalação performática interativa de Christus Nóbrega. Abertura nesta sexta-feira (04/10), às 17h, na Galeria Casa (CasaPark, 1º piso, corredor do Espaço Itaú de Cinema). Visitação até 27 de outubro, de terça a sexta, das 14h às 22h, sábado, das 10h às 22h, e domingo, das 14h às 20h.