Ainda jovens, elas se conheceram. Trocaram olhares. Aquela sensação era nova, assustava, mas estava ali. Não havia como negar. Inevitavelmente, as mãos se esbarraram. Veio uma conversa. As afinidades eram tantas. E elas falaram sobre cinema e debateram teatro. Uma adorava Virna Lisi, a outra preferia Gina Lollobrigida.

O beijo aconteceu no susto. E vieram tantos outros depois. Resolveram morar juntas e demoraram a se decidir entre Copacabana e Lapa. Ficaram em Copa, para não perderem o contato com o mar. No calçadão, andaram de mãos dadas tantas vezes. Foram felizes, mas choraram juntas. Pagaram contas, adotaram um cachorro e o chamaram de Tony Bennett. Em casa, recebiam familiares, amigos e serviam a melhor madeleine do mundo.

Construíram uma vida. Amaram-se como qualquer outro casal. Como Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg em Babilônia. A única diferença é que, certo dia, apontaram o dedo para elas. Elas não entenderam. Não faziam nada. Mas apanharam. E, ali, souberam que a intolerância fere.