A premissa e o período de ambientação podem até ser similares aos do drama A troca, feito por Clint Eastwood em 2008, mas A luz entre oceanos se inscreve noutro patamar, pela sensível direção de Derek Cianfrance. Um rebento alheio implantado numa outra família, sem os filtros de uma adoção legal, move o drama estrelado pela excepcional dupla Michael Fassbender e Alicia Vikander (a premiada coadjuvante de A garota dinamarquesa).

 

 

Em Janus Rock, ilha em território australiano, Tom e Isabel se esbaldam em felicidade e miséria. Nunca apelativo, Cianfrance conduz, entre a elegância de um David Lean e a contenção da dramaturgia nórdica (não à toa, a sueca Vikander integra o elenco), o enredo no qual palpita o questionamento: o peso da integridade pessoal se sobrepõe ao do amor?

 

Romances densos sempre abasteceram as criações de Derek Cianfrance, como acusam os anteriores O lugar onde tudo termina (2013) e Namorados para sempre (2010). 

 

 

 

O envolvimento de Tom e Isabel se mostra natural e esperado, enquanto o tom idílico se reforça com a música de Alexandre Desplat e a qualidade das paisagens apresentadas no longa.

 

O completo isolamento do casal, representado por atores com amplo poder de comunicação tão somente pelo olhar, e a construção epistolar da narrativa também dão charme ao longa com trama deslanchada em 1918. Desordenado e salpicado por atitudes irracionais, o amor entre os protagonistas se torna praticamente um personagem. Contra ele, só mesmo as ações de Hannah (Rachel Weisz, sempre convincente), classuda e sofrida quarentona da vez.